Conce Loureiro numa apresentação da banda FLOR DA PELE
E precisamente por ter tido as suas sementes plantadas (e regadas) em “solo fértil” de fraternal convivência, tal congraçamento de amizade e companheirismo, pela solidez e autenticidade de suas raízes, resistiu aos anos e atravessou as idades, renovando-se continuamente no tempo em novas sínteses de comunhão e partilha (presenciais ou à distância) – cujo maior testemunho vem a ser, justo, a presente obra memorial, construída, coletivamente, graças à contribuição e à sintonia (sempre revigorada) de tantos desses protagonistas de tão singular (e irrepetível) história.
Não se pode deixar de mencionar, ademais – igualmente como fruto de toda essa experiência de sólida amizade –, que, mesmo após o encerramento de todo esse longo e contínuo período de atividades do GEN SINCO, por volta do final de 1981 (após a apresentação do show Rei Negado), vários de seus ex-integrantes (alguns já fora da estrutura do Movimento dos Focolares) decidiram dar continuidade à experiência artística, agora por intermédio de um novo grupo musical, criado por iniciativa de Francisco Henriques – com o apoio e a adesão dos demais.
O FLOR DA PELE, surgido em 1982, era formado por Edilberto Barreiros (guitarra e violões), Nonato Cruz (contrabaixo), José Tavares (teclados e percussão), Francisco Henriques (tumbadoras, bongôs e timbales), Antônio Trindade (bateria), Amarildo (sax, flautas e violões), Afonso Medeiros e Conce Loureiro (vocais solos) – esta última, uma ex-Gen, proveniente do Conjunto As Centelhas, contemporâneo do GEN SINCO em âmbito do Movimento GEN, de Belém.
Projetava, a banda, ensaiar por seis meses seguidos antes do início das apresentações públicas, quando, inesperadamente, passados apenas três, ela foi aprovada e contratada pelo Projeto Pixinguinha – criado pela FUNARTE, em 1977, com o objetivo de promover a música popular brasileira em todo o país –, tendo por escopo acompanhar, na qualidade de grupo local de mérito instrumental, os artistas de renome nacional que se apresentariam no Theatro da Paz, em Belém, apoiados pelo Projeto. Assim ocorreu com o cantor e compositor Sérgio Ricardo e com a banda Premeditando o Breque (depois Premê) – todos destaques no cenário artístico nacional da época.
Além dessas memoráveis apresentações, o FLOR DA PELE chegou a montar dois shows, em sua breve trajetória: o primeiro, denominado Açaí, só com clássicos da MPB (apresentado no auditório do Colégio Nazaré, em 17/12/1982); ao passo que o segundo, Deslenda Amazônica, no Theatro da Paz (em 29/06/1983) e na 35ª Reunião Anual da SBPC (realizada na Universidade Federal do Pará, de 06 e 13 de julho do mesmo ano), pautado numa mescla de repertório autoral próprio – com musicalização de poemas de Emanuel Matos, João de Jesus Paes Loureiro, Heleno de Oliveira, Jorge de Lima, Luís de Camões, Castro Alves e Conce Loureiro – e composições de outros autores regionais (Ruy e Paulo André Barata, Toinho Alves, Zé Luiz Maneschy, Antônio Carlos Braga e Abílio Henriques). Um excerto deste último espetáculo, aliás, abriu o show do grupo paulista Premeditando o Breque e do cantor Sérgio Ricardo, durante suas apresentações no Theatro da Paz, pelo Projeto Pixinguinha, em 1983.
Por fim, cabe ainda o registro de que, por duas vezes consecutivas e intercaladas – uma, em meados dos anos 1980, e outra, ao final dos anos 90 –, houve tentativas, por parte de alguns Gen mais jovens, de reavivar o Conjunto GEN SINCO, com apresentações, porém, episódicas e descontínuas, que não se consolidaram no tempo. Para tal, utilizaram-se do patrimônio coreográfico e musical legado pela geração anterior, sem, contudo, gerar qualquer acréscimo mais significativo à produção já existente.
Num primeiro momento (1984/1985), alguns ex-integrantes remanescentes, que haviam atuado em Rei Negado – a exemplo de Apolinário Alves, Dinamir Viana e Océlio Dias – , com a adesão de outros Gen mais novatos – Milton Lobo, Haroldo Dias, Luciano Sotelo, Marcelo Mendonça, Adalberto Jr., José Carlos Tavares, Salim Monteiro, Francisco Kojack, Flodoaldo, Natanael, Gilvandro, Amílcar e João Batista –, decidiram, por puro voluntarismo, reapresentar o mesmo espetáculo no Theatro da Paz (o que ocorreu em novembro de 1984), seguido de apresentações em outras cidades do interior do Pará, como Castanhal e Bragança – sem, no entanto (por razões múltiplas), dar sequência à iniciativa.
Reprodução do cartaz de divulgação da segunda edição do show Rei Negado (1984).
Numa segunda tentativa (1997/2002), foram os filhos de alguns dos ex-membros do próprio GEN SINCO que, participantes do Movimento GEN naquele final de década, viriam a liderar a reativação do Conjunto por um certo período, mantendo a sua tradicional denominação. Desses, da nova geração, incluíam-se: Fabrício Cruz (guitarra solo), Arthur Secco (guitarra base), Fábio Chaar (bateria), Eduardo Cunha (arranjos e percussão) Wagner Luna (contrabaixo), Marcus William (teclado), Fernando Cruz e Lucas Padilha (vocal), somados a Diego Barra, Rafael Borges, Cássio Moraes e Carlos Araújo (vocais), Márcio Pessoa, Paulo Bendelak, Adam Silva (atores), Marcus Vinícius (técnico de som), Ailton Loraschi, Adailton Siqueira e Raphael Luna (técnicos de iluminação) e Afonso Pinheiro (cenografia).
Inicialmente, tocando em Mariápolis e demais encontros do Movimento, esses Gen pretenderam fazer ressurgir as apresentações instrumentais e cênicas do GEN SINCO (então paralisado há mais de dez anos), tomando por base o seu extenso repertório disponível (patrimônio do Movimento), adicionado a algumas composições novas e canções dos conjuntos GEN ROSSO e PROGETTO UNO (ambos sediados na Itália).
Tal grupo de jovens, dirigido por Leopoldo Queiroz – focolarino natural de Tefé (AM) e Assistente GEN de então –, chegou a elaborar um show completo, intitulado Sinal de Contradição (nome do próprio Conjunto), que foi apresentado, primeiramente, na cidade de Macapá (AP), no Teatro das Bacabeiras, em janeiro de 2000 e, depois, em Belém (em fevereiro), no Theatro da Paz, e na cidade de Cametá (PA), no segundo semestre do mesmo ano – além de pequenas apresentações em outros ambientes menos formais. O leitmotiv da montagem – como sugere o próprio título –, pautada, basicamente, em canções selecionadas do tradicional acervo do GEN SINCO, foi prestar um tributo à sua primeira e pioneira geração, que legara à posteridade todo aquele patrimônio musical – naquela oportunidade rememorado e celebrado.
Projeto gráfico para o logo do show Sinal de Contradição. Design: Afonso Pinheiro.
Ao final de 2002, o Grupo promoveu uma última apresentação musical, no auditório do CCBEU (Centro Cultural Brasil-Estados Unidos), em Belém – que viria a ser o “concerto do adeus” –, mesclando canções tradicionais do GEN SINCO com músicas de Natal, e tendo também por finalidade prestar uma homenagem póstuma a D. Carmem Cruz, mãe e avó de alguns integrantes do Conjunto (Rilson, Nonato, Fernando e Fabrício), então recém falecida – ela que fora voluntária do Movimento dos Focolares e sua principal liderança na cidade de Macapá, terra natal da família Cruz.
Naqueles idos anos de início de década – que também eram de virada de milênio –, muito em razão da transferência, de Belém, do focolarino e diretor-assistente da turma, Leopoldo Queiroz, o Grupo resolveu, enfim, desfazer-se como tal, sem dar mais seguimento à experiência iniciada.
Assim, na entrada do século XXI, o GEN SINCO já restara, tão somente, como memória. Uma lembrança que, agora, vem resgatada e partilhada com todos, tornando inesquecível e ressignificado um sonho que – como diz a canção – “viveu, sorriu e feneceu”, sem jamais ter deixado de plantar a esperança – a Esperança que vai “além de toda dor” e que, se não chegou a incendiar a floresta por inteiro, ainda permanece como chama e sinal de contradição:
Vou, embora anoiteceu
Um dia azul morreu
Morreu na sua dança.
Sou um sonho que viveu
Sorriu e feneceu
Sem verde, nem lembrança.
Mas, eu quero mesmo assim
Seguir até o fim
Sem ver desesperança.
Vou saber, da noite, a flor
Eu vou além da dor
Colher a esperança.
(Letra da canção Cantiga da Esperança)