Américo Secco
á se vão, aí, 51 anos, desde que conheci o Movimento dos Focolares. Estávamos vivendo um período difícil, de uma longa ditadura militar, que se estendeu por, mais ou menos, 20 anos!
Eu era um jovem como outros tantos milhares que amavam os Beatles e os Rolling Stones. Gostava muito de música, de tocar violão e, também, de estudar, pois sonhava em alcançar um lugar ao sol. Aqui, no Brasil, fervilhava o movimento da Jovem Guarda, com Roberto e Erasmo Carlos, Renato e seus Blue Caps – e outros tantos que influenciavam a cabeça e o coração da juventude da época.
O ano era 1969. Após uma conversa com um amigo e vizinho de rua, chamado Paulo – a quem eu havia ajudado a resolver um problema familiar –, fui por ele convidado para uma reunião do Movimento GEN, ao qual ele já participava. No dia seguinte, ele me confessou que ficara um pouco sem jeito em me convidar, pois sabia que meus pais não gostavam que nós saíssemos para lugares desconhecidos – mas, ainda assim, arriscara o convite. Em seguida, relatou-me um pouco como eram esses encontros e o local onde eles eram realizados: na sede do grupo, um barracão situado na Av. Governador José Malcher (antiga Avenida São Jerônimo).
Curioso, aceitei prontamente o convite e me comprometi a ir com ele. Fui, então, falar para a minha mãe da decisão (àquela altura eu ainda não trabalhava e era, portanto, totalmente dependente de meus pais). Quando lhe informei com quem eu iria, para a minha surpresa, ela não colocou nenhum obstáculo e liberou-me.
Os encontros eram realizados todos os sábados e, confesso, não consigo descrever, com exatidão, tudo o que aconteceu comigo naquele bendito dia!
A sede GEN era uma construção de madeira de lei, toda em treliça nas paredes ao redor, para facilitar a ventilação. Ao chegar, fui recebido com uma tal atenção, que saltava aos olhos! – haja vista eu não estar acostumado com aquele tipo de receptividade.
Estavam ali alguns Gen: o Flávio Nassar, que era quem comandava a reunião; o irmão do Bosco (não lembro agora o nome dele); o Raimundo Djard Vieira; o Coqueiro; o Arnaldo (que morava na casa do Flávio Nassar); o Toninho (Nassar), que tocava o órgão; o Roberto, que tocava o violão; e o irmão dele, o Ting – além de outros, que não me vêm à memória.
O Raimundo foi quem me contou a história do Ideal de Chiara Lubich, no decorrer da reunião. E ali começava uma grande transformação, que implicou numa mudança de rumo na minha vida.
Nasci numa família maravilhosa. Mas como não tínhamos muito o hábito de frequentar a igreja, estranhei quando, ao final da reunião, fizeram o convite para que nós participássemos da santa missa na Capela de Lourdes, que ficava ali próxima, na mesma avenida. Daí em diante, não deixei mais de participar da missa, diariamente.
O responsável pelo Movimento em Belém, naquela época, chamava-se Rino (Chiaperin), um italiano, que logo em seguida deixaria Belém. No seu lugar viria o Heleno, focolarino com quem o conjunto musical começou. Assim que ele me conheceu e soube que eu tocava violão, imediatamente me fez o convite para que fosse ao Focolare, que ficava na Avenida Generalíssimo Deodoro, na Alameda Dr. Pedreira, bem próximo de onde eu morava.
Assim, comecei a frequentar diariamente a casa dos focolarinos, onde, sob a direção do Heleno, começaram os ensaios do que seriam as futuras apresentações do Conjunto GEN SINCO. Como estávamos vivendo numa ditadura militar, o Heleno insistia com o grupo de que nós tínhamos que fazer músicas, pois não havia recursos para pagar os direitos autorais, exigidos pelo ECAD, pelas músicas de terceiros que fizessem parte dos nossos espetáculos.
Começamos, então, a trabalhar. E, assim, fizemos muitas e muitas canções, sobretudo com letras do Heleno, sendo que algumas delas se perderam no tempo e no espaço – tanto que nem eu mesmo sou capaz de me lembrar de todos os seus acordes (espero que um dia possamos resgatá-las!).
Nasceram, ainda, outras canções, como Liberdade, em parceria com o Emanuel Matos (Manu), quando eu ia para a casa dele, na Avenida Alcindo Cacela; e, também, com o Alex Fiúza de Mello, nos encontros do Movimento GEN – quando compusemos Canto de Paz e Magnificat (uma canção para Maria Santíssima). Porém, que eu me lembre, a única composição de minha autoria que fez parte do livro de canções do Movimento foi Cantiga da Esperança (em parceria com o Heleno) – a qual teve o aval do Volo (dirigente da Obra de Maria no Brasil), quando lhe foi apresentada, a pedido do Heleno, em uma de suas passagens por Belém.
Dessa forma, fomos ensaiando bastante e criando coragem para expor ao público o nosso trabalho. Até que aconteceu! Fizemos vários shows em igrejas (Capela de Lourdes, Igreja das Mercês) e, também, no Theatro da Paz.
A participação do Edilberto Barreiros foi fundamental, pois ele já tinha um número muito bom de composições, que o Heleno foi colocando a letra.
Lembro, também, que fomos fazer uma apresentação em Macapá, a convite dos pais do Rilson (outro Gen), Dona Carmem e Dr. Tadeu. Foi a minha primeira viagem de avião! Recordo que estava tão nervoso, que não conseguia nem olhar para a janela da aeronave e ver as nuvens lá embaixo. Fomos num equipamento da FAB (Força Aérea Brasileira) e levamos 2 horas (com muitos contratempos) para chegar ao destino – diferentemente dos voos comerciais, que duram apenas 40 minutos. A apresentação foi num ginásio esportivo da cidade, com a presença de muita gente no público. Só não recordo se foi um show musical ou, também, com recursos cênicos.
Estas são algumas das inesquecíveis recordações que guardo daquele extraordinário momento que partilhamos no Movimento GEN – e que marcou a minha vida para sempre.